
AS FESTAS PROFÉTICAS E A IGREJA DE CRISTO
Por César B. Rien
Primeiramente, vamos esclarecer sobre o uso de diferentes palavras no
grego para significar Lei. Na verdade, todas essas palavras significam a mesma
coisa: Torá. A tradução do grego para idiomas modernos é que traduziu Torá como
lei. Mas vamos às palavras: NOMOS = TORÁ, flexionada em NOMOI, é o plural(leis), flexionada em NOMOU = da TORÁ (da lei), flexionada em NOMON = a TORÁ
(a lei). Ex.: UPO NOMON = sob a TORÁ (sob a lei). Na verdade, a Bíblia não faz
distinção entre Lei Cerimonial, Leis Civis, Leis Dietéticas, Leis Morais. Tudo ficasubentendido dentro da palavra TORÁ.
Por quê a TORÁ foi dada a Israel? Para ensinar o Povo de Deus a como
fazer para manter um relacionamento com Ele. Deus havia libertado Seu Povo da
escravidão no Egito unicamente por Sua Graça. O povo não havia feito
absolutamente nada para merecer isso. A TORÁ, então, tem a finalidade de ensinar
ao povo como responder de forma jovial e voluntária a essa Graça Maravilhosa. E a
obediência aos preceitos e a fidelidade à Aliança eram as formas de como o povo
devia retribuir em amor ao seu Libertador, e de como manter e sustentar esse
relacionamento.
Quem fez, então, a distinção entre lei e lei? Certamente foram os teólogos
que fizeram essa distinção, unicamente para fins didáticos, porque na Bíblia não
existe essa distinção. Por quê a Bíblia não faz essa distinção? Porque o Novo
Testamento não tem a finalidade de abolir a Torá, nem os livros sapienciais (Salmos,
Provérbios, Eclesiastes), nem veio para abolir os livros dos profetas. Na verdade, os
Apóstolos de Cristo são totalmente dependentes do Antigo Testamento para
transmitir para nós o ensino de como praticar corretamente a Torá. O próprio Jesus
nunca deixou de usar a Torá e os Salmos e os Profetas em Seus ensinos.
Precisamos remover de nossa mente a idéia errada de que Jesus veio
para destruir o Antigo Testamento e para inventar algo novo. Ele nunca fez isso. Se
Jesus tivesse abolido o Antigo Testamento ou a Torá, os Apóstolos não poderiam
usar esses textos para embasar o ensino à igreja. O Evangelho que deve ser
pregado a todas as nações é chamado de Evangelho Eterno, no Apocalipse (Apo.
14:6). Então, esse Evangelho Eterno não é algo que foi inventado por Jesus ou que
surgiu a partir do 1º Advento. O Evangelho Eterno é algo que existe desde antes da
fundação do Mundo, quando Jesus e o Pai esboçaram o Plano da Salvação,
antecipando-se à queda do homem, antes de Adão ser criado. Esse Evangelho jáestava esboçado na TORÁ.
O que havia sido predito por Jeremias (Jer. 31:31-33) era a necessidade
de uma Aliança Renovada. Não era, portanto, uma “outra” Aliança, mas a mesma,
apenas que Renovada em Jesus, o Messias de Israel. Por que renová-la? Porque o
Povo de Deus falhou em cumprir sua parte nos quesitos da Aliança. O povo se
desviou de Deus para a idolatria, a misericórdia foi removida da prática religiosa e
esta tornou-se mera formalidade com rituais que perderam seu verdadeiro
significado. Ora, quando o povo falhou em cumprir os termos da Aliança foi o mesmo
que rejeitarem a Deus, porque a Aliança é o contrato de casamento entre Deus e
Seu Povo. Esse casamento desgastou-se devido à infidelidade do povo, e o
relacionamento entre o povo e Deus simplesmente deixou de ser aquilo para o qual
Deus os havia chamado. Contudo, Deus sempre permaneceu, permanece e
permanecerá fiel a Sua Aliança. Deus mesmo, prevendo tudo isso, prometeu através
de Jeremias que Ele traria uma Aliança Renovada para resgatar o relacionamento
que se havia deteriorado e perdido. Deus sempre toma a iniciativa, porque o ser
humano nunca compreende os profundos propósitos de Deus, a ponto de impedir
que os demais povos e nações conhecessem esse Deus Vivo e Sua intenção de
abençoar e salvar todos os povos.
Essa intenção foi dada por meio dos profetas, mas os sacerdotes e o povo
não conseguiam mais perceber esse santo propósito. Portanto, era necessário
mudar a forma de relacionamento. Assim como a lua nova é a mesma lua e não
outra, a Aliança Renovada não é outra, mas a mesma, porém, renovada. Então, amesma TORÁ permanece e as leis ainda são as mesmas. O que seria novo nessa
Aliança Renovada? A novidade seria a mudança na forma de relacionamento.
Até o 1º Advento, a forma de relacionamento necessitava que o pecador
confessasse seus pecados sobre a cabeça de um cordeiro e o apresentasse ao
sacerdote humano para ser oferecido em holocausto. Essa era a forma de
relacionamento que se havia deteriorado e que precisava ser mudada. Havia
necessidade não mais de muitos sacerdotes humanos e mortais, mas de um único
Mediador Divino-humano e Imortal; não mais sacrifícios ineficazes de animais,
porque não podiam purificar a consciência, mas, sim, de um Único e Perfeito
Sacrifício; não mais de um santuário terrestre, mas, sim, de um Santuário Celestial.
Havia uma outra novidade nessa Aliança Renovada. O pecador
arrependido receberia a ação santificadora do Espírito Santo para purificar sua
consciência, bem como para escrever a Torá de Deus não mais em pedra, couro ou
papel, mas nas mentes e corações das pessoas que decidissem tornar-se parte do
Povo de Deus. Israel ainda é a oliveira verdadeira, e os gentios que aceitam a Jesus
como seu Mediador e Redentor pessoal passam a ser enxertados nessa oliveira
(Rom. 11:17-21). Deus nunca rejeitou os judeus, porque Ele é sempre fiel a Sua
Aliança (Sal. 89:34; Rom. 11:26-29).
Assim, então, a partir do Advento do Messias de Israel, Jesus Cristo
tornou-Se Sacerdote e Sacrifício ao mesmo tempo, porque já havia sido nomeado
pelo Pai como Mediador e Sumo Sacerdote, não da ordem sacerdotal humana e
pecadora de Arão, mas segundo a ordem sacerdotal prefigurada por Melquisedeque.
Por esse motivo, a Bíblia não contém a genealogia de Melquisedeque, nem registra
sua morte, para que ele não tendo início e nem fim pudesse prefigurar o Eterno
Sumo Sacerdote Jesus. Após a Ressurreição, Jesus foi entronizado no Santuário
Celestial, onde exerce Seu Ministério Sumo Sacerdotal, vivendo sempre para
interceder por nós. Cada vez que um pecador se arrepende e confessa seus
pecados, Jesus o cobre com Sua Graça Salvadora e o Justifica diante da Lei (Torá),
concedendo-lhe o perdão, a purificação da consciência, a renovação da vida e
concede-lhe o Espírito Santo para que o arrependido abomine o mal e deseje uma
vida de pureza e santidade, espelhando-se sempre no Mestre Jesus, que disse:
“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor;
assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no Seu
amor permaneço...” – João 15:10.
Deste modo, a Aliança Renovada produziu uma nova forma de relaciona
mento para anular todas as falhas do Povo de Deus no passado, para que nunca
mais o povo quebrasse a Aliança como seus pais fizeram. Agora podemos ter
confiança em nosso Sumo Sacerdote e Mediador Jesus, porque o Espírito Santo nos
assiste em obedecer aos mandamentos para não quebrarmos a Aliança. Porém, se
alguém pecar, “temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1ª João 2:1-2).
Desta forma é possível, então, manter a mesma TORÁ, os mesmos mandamentos,
estatutos e juízos, sem a necessidade de voltarmos ao sacrifício de animais, porque
a Aliança permanece a mesma, tendo, apenas, sido Renovada em Cristo Jesus.
Por consequência, as Festas Proféticas de Levíticos 23 também não
foram abolidas e ainda devem ser observadas. Não basta, apenas, observar o
Sábado e imaginar que cumpriu a obrigação para com a Torá (Lei). Há um propósito
divino insondável na observância dessas santas Festas do Senhor. Isso ficou muito
evidente no cumprimento antitípico das Festas da Primavera, quando elas se
cumpriram no 1º ADVENTO. Jesus foi sacrificado no dia e hora em que o cordeiro
pascal era sacrificado, permaneceu na tumba durante o 1º dia dos pães ázimos,
ressuscitou no DIA DAS PRIMÍCIAS e concedeu a Plenitude do Espírito no DIA DE
PENTECOSTES. Ora, se o Apocalipse nos mostra que as Festas do Outono serão
cumpridas no futuro, então essas festas não foram abolidas e estão em plena
vigência para a era dos gentios (Apo. 7:9-15). O Profeta Zacarias nos mostra
claramente que é a Vontade de Deus que os povos gentílicos celebrem a Festa dosTabernáculos (Zac. 14:16-19). A ordenança para assim fazermos está na TORÁ
(Deu. 31:10 e 12).
Não mais é preciso ir a Jerusalém, como diz o profeta. Na ocasião em que
a profecia foi dada a Zacarias ainda existia o Templo terrestre, e era, então,
importante os gentios irem a Jerusalém. Contudo, agora que não há mais um templo
terrestre, e, sim, um Santuário Celestial, podemos celebrar as Festas do Senhor em
nossa própria congregação. Até mesmo as Festas da Primavera devem ser
celebradas. Vejamos o porquê.
Para fins didáticos, diremos que as festas têm várias funções importantes:
a função sacrifical, a função profética, a função memorial, a função espiritual (relacionamento
com o Criador e Mantenedor da vida), a função social (congraçamento
fraterno entre os membros da Aliança, para fortalecimento mútuo dos laços de
camaradagem), etc. Por ocasião do 1º ADVENTO, a função sacrifical foi cumprida
por Cristo de forma perfeita e única, não havendo mais a necessidade de oferendas
infindáveis de animais em holocausto. Essa função foi cumprida definitivamente de
uma vez por todas, para todas as festas, para o Sábado e para o sacrifício contínuo.
O sacrifício de Jesus foi perfeito e suficiente para todos. Leiamos o seguinte
comentário:
“O sangue derramado quando as oblações eram oferecidas apontava ao
sacrifício do Cordeiro de Deus. Todas as ofertas típicas tiveram nEle o seu
cumprimento.” (Parábolas de Jesus, pág. 126).
E, ainda:
“A lei ritual, com seus sacrifícios e ordenanças, devia ser cumprida pelos
hebreus até que o tipo encontrasse o antítipo, na morte de Cristo, o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo. Então cessariam todas as ofertas sacrificais.
Foi esta a lei que Cristo ‘tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.’ Colossenses
2:14.” (Patriarcas e Profetas, pág. 379).
Também foi cumprida a função profética das FESTAS DA PRIMAVERA.
Essas festas, agora, não são mais profecias, nunca mais irão cumprir-se novamente
no futuro, porque a tipologia que elas continham apontava para CRISTO e foram
plenamente consumadas em Seu 1º ADVENTO.
Porém, a FUNÇÃO MEMORIAL não foi abolida e nunca será extinta, porque
ela é estatuto perpétuo. A função memorial da Páscoa estava ligada aos eventos
do Êxodo do Egito somente. A partir de Jesus a função memorial da Páscoa foiampliada, para abranger os eventos relativos à REDENÇÃO da raça humana no que
se refere à escravidão ao pecado. Na ceia pascal, Jesus mesmo ordenou: “fazei istoem MEMÓRIA DE MIM.” E o Apóstolo Paulo acrescentou:
“Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice
anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.” (1ª Cor. 11:26).
O Sábado tem algumas funções semelhantes, porém o Santo Sábado não
cumpre a função memorial de cada festa, porque o Sábado é um Memorial da
Criação e da Redenção, mas não é um memorial dos outros eventos do Plano da
Redenção que são representados pelas demais Festas do Senhor. Tanto é verdade
que o Sábado não extinguiu a função memorial da Páscoa, que Paulo reforçou anecessidade de celebração da Páscoa em memória do sacrifício de Jesus, ATÉ
QUE ELE VENHA. Assim é que cada festa deve cumprir sozinha sua própria função
memorial, devendo ser celebradas sempre no seu próprio TEMPO DETERMINADO
(Lev. 23:4).
O Novo Testamento contém muitas evidências de que a Igreja Primitiva
celebrava as Festas do Senhor. Por exemplo, muitos anos após a morte, ressurreição
e ascenção de CRISTO o Apóstolo Paulo celebrava essas festas (ex.: Pentecostes,
em Atos 20:6 e 16; 1ª Cor. 16:8). Em Atos 27:9, estando ele em alto mar, mencionou
a passagem do Yom Kipur (Dia do Perdão/Expiação). Ali consta apenas a
palavra jejum, porém, a única festa religiosa judaica que obriga ao jejum é o Yom
Kipur. A Bíblia de Jerusalém contém o seguinte comentário de rodapé:
“e) Outro nome da festa da Expiação, único dia de jejum prescrito pela
Lei [Torá] (Lev. 16:29-31). Celebrava-se em setembro, perto do equinócio do outono
europeu.”
Em 1ª Cor. 5:7-8, Paulo ordena que os crentes celebrem a Páscoa:
“Lançai fora o velho fermento para que sejais nova massa, como sois de
fato sem fermento. Pois, também Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado. Por
isso celebremos a festa…”
Pena que a maioria das denominações espiritualiza tudo e usa a filosofia
greco-romana para interpretar isso como sendo uma alusão à Santa Ceia, em
qualquer dia, e não à Páscoa judaica. Quem for bem intencionado, conseguirá
perceber que se trata da Páscoa judaica.
Além de Paulo, também há menção às festas na Epístola de Judas:
“Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de
fraternidade…” (Judas 12).
Novamente, aqui, precisamos ler com sinceridade de coração e perceber
que não se trata apenas da Páscoa, mas de todas as Festas do Senhor (Lev. 23).
Os Apóstolos de Cristo obedeciam à Torá e celebravam todas as festas proféticas,
porque nem Jesus nem eles cogitavam de abolir essas celebrações. Jesus não
aboliu o Sábado, mas também não aboliu as Festas do Senhor. Leiamos o seguinte
comentário sobre o concílio de Atos 15:
“Ali deviam eles encontrar-se com delegados das diversas igrejas e com
os que viessem para assistir às festas anuais.” (História da Redenção, pág. 305).
Cego é quem não quer ver. Este comentário reconhece que os crentes da
Igreja Primitiva celebravam as festas anuais de Levíticos 23. A novidade da Aliança
Renovada é que não mais necessitamos sacrificar animais, porque Jesus ofereceu
um sacrifício perfeito e suficiente, nem precisamos ir até Jerusalém para celebrar as
festas, porque não há mais um templo terrestre.
Aprendamos um pouco mais com Sir Isaac Newton:
“Os assuntos da igreja começam a ser considerados na abertura do quinto
selo… Então, ela é representada por uma mulher no Santuário Celestial, vestida
com o Sol da Justiça, com a lua das cerimônias judaicas sob seus pés e sobre
sua cabeça uma coroa com doze estrelas relativas aos doze Apóstolos e às doze
tribos de Israel. Quando ela voou do Santuário para o deserto, deixou no Santuário o
restante da sua semente, os que guardam os Mandamentos de Deus e têm o
Testemunho de Jesus Cristo. Antes de seu vôo ela representava a verdadeira igreja
primitiva de Deus, para depois degenerar como Oolá e Oolibá…” (in As Profecias do
Apocalipse e o Livro de Daniel – As Raízes do Código da Bíblia, 1ª Edição Integral
em Língua Portuguesa, Editora Pensamento, São Paulo, 2008).
A igreja primitiva da qual o cientista fala é a Igreja Apostólica. É importante notar que
a lua sob os pés da mulher representa todo o cerimonial judaico, que é regido, claro,
pelo calendário judaico. Nesse calendário, os meses são iniciados na lua nova. Na
Torá, em Lev. 23, Moisés relacionou as festas proféticas, que contêm a tipologia
prefigurativa do Plano da Redenção. Ele afirma que elas são “festas do Senhor”, e
devem ser celebradas no tempo determinado (v. 4). Se a mulher representa a igreja
e a lua representa o calendário cerimonial judaico, então isso significa que a igreja
precisa estar embasada nesse calendário para ser reconhecida como o Povo do
Altíssimo, “os que guardam os Mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus” (Apo.
14:12).
O cumprimento da tipologia das Festas da Primavera, no 1º Advento, dá
prova irrefutável de que essas festas são, na verdade, a agenda do Santuário
Celestial. É por meio das festas proféticas que Jesus nos revela cada passo
importante do Seu Plano da Redenção, que Ele vai desdobrando de forma
progressiva em cada geração, para que mais e mais verdades sejam compreendidas
e ensinadas ao Seu Povo, para que eles não pereçam por falta de conhecimento.
Amém!
Imaginem só o que seria de nós se os Apóstolos de Cristo desprezassem
a Aliança, não obedecessem aos estatutos, não celebrassem as festas e não
estivessem todos reunidos no mesmo lugar para receber a Plenitude do Espírito
Santo no Dia de Pentecostes!
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